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domingo, 3 de outubro de 2010

Como se soubesse de tudo

Eu não sei o que fazer deste amor
Ele não sabe o que fazer deste amor
Então
Cheios de espanto
Agente se abraça
E se ama a noite toda
Como se soubesse de tudo
sem querer saber de nada

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Hai Kai

Manhã cinzenta
Sax toca
Chingo no ar




Daniela Machado

domingo, 26 de setembro de 2010

Meu mundo de pássaro

Meu Mundo de pássaro

De galho em galho

Folhas des-folham qualquer sentido

Da cama

Do novo quarto

Com as velhas coisas

Aquelas velhas coisas

Que podiam ter ficado lá

Aquele velho sentimento

Que arde

Agora Arde

Não dói mais

E voa

Como um pássaro

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Noite de aniversário_02/03


Da cama,
a janela e a madrugada.
Lá fora,
as núvens passando apressadas.
Correm do vento, ou dos ponteiros do relógio?


Daniela Machado

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Noite de aniversário_01/03


De madrugada, as nuvens passam tão rápido,
que eu até chego a duvidar se é o vento
ou os ponteiros do relógio
Daniela Machado

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Os Sandras

Por que tantos Sandras?
embaixo da janela,
no meio do caminho
Não páram de passar.
Em seu ronco há tanto espinho...
das paisagens,
das vertentes,
do batente e
daquela gente.
Escrevo
e deixo pra lá

Daniela Machado

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tanto faz

Quando agente tá feliz,
Tanto faz.
Tanto faz se chove,
Tanto faz o que move,
Tanto faz se faz,
ou se deixa pra depois.
A alegria assim se faz
Nas brechas da tristeza,
No esquecimento da saudade
E caminha
Sem saber que também um dia
tanto fez feliz
que da tristeza sentiu falta
e assim novamente triste se fez
só de sacanagem.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Em tudo está

Esse amanhecer, mais noite que a noite.
Este anoitecer, onde o dia cai.
Onde a claridade se esconde.
Esconde meu desejo
Em todas as noites
Em todos os acordes da manhã
Esconde de mim
e vive em mim.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Ao acaso na Praça Sete

Hoje à noite encontrei com Zito tocando na praça Sete. Luzes de mercúrio, e cidade quase vazia. O coração voltou no tempo.
No caminho pra casa a música renascia cá dentro. De rebento, soltava aos poucos um assobio.

terça-feira, 11 de maio de 2010

enxaqueca, choque e susto

Tive uns dias meio em choque, enxaqueca e susto. Agora sossego. Acordei num dia de Flores e Frutos. Pasmo e Pasmaceira. Alegria e tristeza. Até que viver assim é bom.

domingo, 9 de maio de 2010

A dor é uma distração constante

Recebi notificação do correio para ir buscar a encomenda. Eram os perdidos seus de janeiro, que veio de avião, e eu ainda paguei a diferença. Selagem errada e notícias antigas. Liguei pro João no aniversário, não mandei presente, nem cartão. Fiquei anti. A sua encomenda sem selagem não dizia nada sobre o João, vai ver qualquer dia eu recebo outra notificação.
Voltei pro convento.
Aliás, na encomenda estava seu cartão. Fiquei puta de raiva sim. Só tem um jeito, da próxima vez mando uma carta muito mais bem escrita pra você ficar arregalado de horror. Eu me derramando por páginas sem fim e você me rabiscando um mísero bilhete atrás de um cartão. Você tem que entender uma coisa, eu estou aqui, com um ritmo na cabeça que fica falando e não me deixa dormir, então o jeito é escrever, estou completamente numa, gosto do som do teclado, o que eu posso fazer? me distrair, com todos os pingos nos ís.

terça-feira, 4 de maio de 2010

06:00

Ontem chorei tanto que dormi rezando. Acordei leve. Pronta e feliz. Obrigada meu Deus. Hoje o mundo me espera lá fora. E os meus sonhos, embrulhados pra presente.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Quelqu' um m'a dit

Eu tinha razão. Cheguei em casa, abri o emaill. E lá estava sua carta. É ótimo como carta reata, esquenta, anima. Eu vinha com a garganta apertada do trabalho, cercada de pessoas e triste por deixar assim passar. E tua carta me devolve várias alegrias.
Ando com preguiça de escrever. Queria escrever mais puramente.
Reli hoje textos que escrevi. "Reparo". "Percebo". "Constato". Preciso me distanciar da dor, e me policiar para não mais seguir o que ainda me deixa triste.
Estou num dia errado. Teve um tempo que eu botava Billie Holiday, melancólica, miando, sempre tem alguém distante, ou triste retorno. Hoje ouvi Carla Bruni. Quelqu' um m'a dit. Mas ninguém nada me disse.

domingo, 4 de abril de 2010

Despindo-me de Clarice


Briguei muito, e acho que enquanto brigava, estava junto ao contrário. Já separar-se foi mais sério, pois tirei um pedaço do outro de dentro de mim. Não sei se pra me sentir completa, para querer ser e ter tudo, num mundo de nada. Mas me fiz novamente e fui engolida pela vida!
Não chegaria a ser uma metamorfose, que perâmbura pela rua, apenas já não me sou mais...há tempos! Revivo a cada instante, uma nova Daniela, e assim sou feliz. Pois guardo o cerne do que me faz: o medo, o drama, o excesso de vazio, e sobretudo o avesso.

Daniela Machado

segunda-feira, 29 de março de 2010

Presumível

Hoje estou escrevendo noite adentro, ruídos de segunda-feira santa, em apartamento silencioso. Vim embora de ônibus, mas desci no meio do caminho. E chutei a pedra que tava lá. Junto com as luzes acesas, e a parede pintada de branco. O coração apertou, mas as lágrimas não desceram. Talvez seja a hora de fazer as pazes com Chico. E ficar à toa na vida, vendo a banda passar.

Daniela Machado

terça-feira, 16 de março de 2010

Para cada problema existe um poema

A vida é um paradoxo mesmo. Há umas semanas tava com um problema danado, isso porque tinha tempo demais, ócio demais, pensamentos demais rondando na cabeça. E gente demais incomodada com meu pseudo-sossego. Agora simplesmente não tenho tempo pra nada. Voltou tudo a ser desesperado como sempre foi, uma correria sem fim, um tempo que passa na velocidade da luz (calculada pelo vray partícula do 3d Máx) e mesmo assim uma coisa não mudou: o incômodo alheio.

Mas no meio disso tudo, teve muita coisa boa. Pra fugir um pouco da neurose, fico pesquisando balela na internet (com fone de ouvido porque não adianta só sentar em frente à tela, tem que se proteger). E descobri um blog da minha prima, que é muito legal! O nome dele já sugestiona: Para cada problema existe um poema! Tava lendo e percebi que a melancolia veio da parte da família da mamãe mesmo! E o talento também! Bom, fica a dica para vocês: http://paracadaproblema.wordpress.com/

Resumindo todos esses dias sem post: sinto falta de escrever mais. Todo dia penso inúmeras coisas boas pra postar, mas sempre as deixo pra amanhã. Coisas boas agente vive e extravasa no momento, porque é bom. Não precisa do gozo da escrita. A vida é desse jeito. De repente uma lágrima se transforma e letra. Mas não tão de repente mais. Demora. Mas só pra não me acharem egoísta, vai lá: Ontem enquanto eu trabalhava choveu, e apareceu um arco-íris lindo, colorindo todo centro de BH. Fiquei feliz por não ter que sair desesperada à procura do pote de ouro, e daí só admirei.


Daniela Machado

quinta-feira, 4 de março de 2010

No Brasil

Homem desempregado
casado
três filhos.
Mão-de-obra abundante
aceita trabalhar
por vale-transporte
e ticket restaurante.

Daniela Machado

segunda-feira, 1 de março de 2010

Samba triste



Nunca escrever foi tão necessário, e tão difícil. Queria mesmo era conseguir compor um samba. Um samba triste, um samba de saudade, e como já dizia Baden Powell (que Deus o tenha):

“ Samba triste agente faz assim, eu aqui, você longe de mim, alguém se vai, saudade vem”.

E hoje acordei com o aperto de saudade, foi como se depois de toda a cerimônia, todas as lágrimas derramadas, o cortejo e o enterro, agora que a ficha começou a cair. E no momento em que a vida continua para todos nós, continua mais triste, faltando um pedaço. A música perdeu um grande instrumentista, a companheira um grande homem, filhos perderam um grande pai, os netos um avô alegre, risonho e bigodudo, e para o resto houve a perda de um grande amigo, um mestre do samba e da vida. Nosso querido Zazá partiu,"numa batucada de bamba", juntamente com outro sambista no Rio, o Walter Alfaiate, eles foram inclusive enterrados no mesmo horário, e aposto com quem quiser, que Deus não economizou no samba de recepção pros dois, lá em cima. Ajuda era que não faltava, lá devia estar o cartola, o Jamelão, o Baden Powell, e essa turma toda ... zazá deve estar se esbaldando!

O ruim da partida é pra gente que fica aqui, meio que abandonado, sem saber como vai ser de agora pra frente. Mas Zazá foi esperto, ele sabia que ninguém era eterno, e durante toda sua vida ele pregou, ensinou o que sabia de samba, de cadência. E agora os aprendizes estão aí, uma geração de sambistas talentosos, que aprenderam tradicionalmente na roda, na noite, sentado, olhando para as suas mãos firmes e precisas. Mãos estas que estavam geladas ontem, e ele estava sem bigode, mas usava a blusa predileta, e um broche de pandeiro. Coroas de flores do clube do choro, do samba da madrugada, de seus familiares, chegavam e perfumavam o ambiente. Homenagens de seus amigos músicos emocionavam a todos nós. Foi-se a despedida. Dedos trêmulos tocavam carinhoso no acordeon, violão e pandeiro. Lágrimas doces corriam dos olhos de todos, e na tristeza comungamos.

Hoje sinto-me privilegiada de ter tido a oportunidade de conhecer, conviver, aprender, e ser amiga dessa figura fantástica, que fez história, e deixou saudade.


Zazá hoje foi embora

Não há do que se lamentar

Ele teve que partir

Mas eu sei que aprendi

O que ele veio me ensinar


Hoje agora ele faz festa

E ensina quem já foi

Hoje o céu samba depressa

Com a chegada deles dois


Só não fica chateado

Pelo bigode cortado

Pois seu pandeiro

Aqui embaixo

Nunca será calado


Daniela Machado