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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Fantasma

Hoje depois de muito tempo voltei a sonhar. Acredito que sonhava antes, só não lembrava, então já retificando minha primeira fala: voltei a lembrar dos meus sonhos. E o sonho não teve nada demais, teve pessoas conhecidas, amigos e família. E uma aventura, sei lá... Bom, a intenção deste post não é contar meu sonho, e sim as sensações que aos poucos voltam a arrepiar os pêlos do meu braço.

Consegui um emprego sólido. Primeira sensação! Não adianta ficar nessa de artista, vivendo de vento, quando venta, e talz...Não. O que realmente aumenta a auto-estima da gente é o poder de compra e venda. E essa de trabalhar em casa, também não é uma boa quando supõe-se um lado artístico eminente, que fica atormentando nos dois ouvidos: vai tocar música, escrever, pesquisar outras coisas...trava-se uma luta interna diária. Saco!

A volta dos que não foram. Segunda sensação! Redescobri antigas paixões. O gosto pelo violão foi a primeira delas, o passar horas a fio tentando fazer “aquele” acorde e por fim tocar a música inteirinha é muito gostoso. Depois teve aquele cd duplo que “apareceu” na gaveta, meio arranhado, meio jogado, e que o som custou a ler, mas quando leu bateu o arrepio...Mozart! Sempre Inusitado, belo e inusitado.
E a terceira sensação, ainda nos prognósticos da volta dos que não foram, foi um texto que escrevi sobre o fantasma da ópera, há muito tempo atrás, ainda nos diários adolescentes. Dizia o seguinte:

“Hoje não fui à aula pela manhã; Estava escutando o fantasma da Ópera, e algo me tocou. Quando saí para o cursinho, a música não saía da minha cabeça e por vezes repassava cada cena como um filme. E pensava: porque o fantasma pode ser uma figura tão significante, a ponto de me assombrar por tanto tempo? Talvez pelo romantismo... a idéia do excluído, assim tão cheia de talento e de sentimento, tão íntimo, a possibilidade de redenção...talvez fosse isso. A possibilidade de redenção. A redenção pelo amor. Idéia tão antiga e ainda tão presente. Como se o desejo de amar e de ser amado fosse a esperança maior, a certeza da inserção. A parte que mais mexeu comigo é quando a máscara fica sozinha e iluminada no palco vazio. Seria esta a minha máscara. Abre-se então a possibilidade de máscara nenhuma. A nudez da alma. A solidão da nudez. Teve um outro momento também em que após ser reconhecida como cantora, Christine chama pelo anjo da música, que em sua fantasia seria o mestre maior. E eis que o anjo atende a este chamado e aparece como uma voz pedindo a ela que fosse ao espelho. Ela fica seduzida pela possibilidade de ultrapassar os limites e através do espelho, do símbolo de narciso, ela chega até o anjo, ou melhor, encontra o fantasma. Para resumir toda a peça, Christine ficou com Raul e o fantasma desapareceu (lembrando que o fantasma era apenas um louco). Mas...o fantasma, será que ele parou de amar? Será que ele saiu do esgoto? Será que ele se matou? Talvez ele tenha me visto e vindo pra perto de mim...E hoje fica registrado que um dia fui assombrada pelo fantasma, mas ele foi embora algum tempo depois, porque decidi procurar um Raul.” (Escrito no meu diário dia 19-06-2001_Terça-Feira)

Essa foi a terceira sensação. O terceiro arrepio de hoje. O fantasma estava comigo novamente, e eu indo em busca (de novo) de outro Raul.
A história se repete.


Daniela Machado