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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um segundo

Ironicamente foi num desses dias de chuva intensa e céu nublado, que na escuridão do quarto sem energia, tudo ficou claro. A resposta mal colocada, junto com a mensagem demorada, aquela falta de jeito. Seu discreto desinteresse, o beijo que ficou no ar, que propositalmente ele recusava em dar.
De repente tudo tão óbvio. Grande impacto. Ele deveria saber que essa não era a melhor maneira de me fazer entender, de me fazer calar, de me fazer de repente ter que me afastar. Logo eu, que sempre estive no mesmo lugar, ele que veio me bagunçar.
Depois disso o dia amanheceu triste, de nó na garganta. Com aquela música que parecia nunca mais sair da cabeça.
Senti os olhos marejarem no ônibus.
Era uma sensação de vazio. Não era raiva, rancor, desamor, frustação. Era apenas um nada.
Veio a correria diária, outras pessoas me deixaram mal. E no meio aos turbilhões da vida moderna, o acaso me levou ao encontro dele. E nada mais fazia sentido. Tudo tinha perdido aquela importância.
Trocamos algumas palavras, impressões e ensaios do dia. Coisas que eu poderia falar para qualquer um. E quando ele foi embora, logo depois, tudo pareceu tão comum, e fosco, e desconexo.
Senti que precisava de cuidados, queria que qualquer pessoa cuidasse de mim. Qualquer pessoa, entende? Qualquer uma.
E a sensação estranha da manhã foi se revelando. E aquele sentimento todo não me afetava mais. Ele ainda existia, só não me afetava.
Lembrei de amores passados, sentimentos deteriorados.
Quanto tempo levou pra passar?
Não sei
Sei apenas que para desistir e seguir a diante, leva um segundo.
Daniela Machado