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segunda-feira, 29 de março de 2010

Presumível

Hoje estou escrevendo noite adentro, ruídos de segunda-feira santa, em apartamento silencioso. Vim embora de ônibus, mas desci no meio do caminho. E chutei a pedra que tava lá. Junto com as luzes acesas, e a parede pintada de branco. O coração apertou, mas as lágrimas não desceram. Talvez seja a hora de fazer as pazes com Chico. E ficar à toa na vida, vendo a banda passar.

Daniela Machado

terça-feira, 16 de março de 2010

Para cada problema existe um poema

A vida é um paradoxo mesmo. Há umas semanas tava com um problema danado, isso porque tinha tempo demais, ócio demais, pensamentos demais rondando na cabeça. E gente demais incomodada com meu pseudo-sossego. Agora simplesmente não tenho tempo pra nada. Voltou tudo a ser desesperado como sempre foi, uma correria sem fim, um tempo que passa na velocidade da luz (calculada pelo vray partícula do 3d Máx) e mesmo assim uma coisa não mudou: o incômodo alheio.

Mas no meio disso tudo, teve muita coisa boa. Pra fugir um pouco da neurose, fico pesquisando balela na internet (com fone de ouvido porque não adianta só sentar em frente à tela, tem que se proteger). E descobri um blog da minha prima, que é muito legal! O nome dele já sugestiona: Para cada problema existe um poema! Tava lendo e percebi que a melancolia veio da parte da família da mamãe mesmo! E o talento também! Bom, fica a dica para vocês: http://paracadaproblema.wordpress.com/

Resumindo todos esses dias sem post: sinto falta de escrever mais. Todo dia penso inúmeras coisas boas pra postar, mas sempre as deixo pra amanhã. Coisas boas agente vive e extravasa no momento, porque é bom. Não precisa do gozo da escrita. A vida é desse jeito. De repente uma lágrima se transforma e letra. Mas não tão de repente mais. Demora. Mas só pra não me acharem egoísta, vai lá: Ontem enquanto eu trabalhava choveu, e apareceu um arco-íris lindo, colorindo todo centro de BH. Fiquei feliz por não ter que sair desesperada à procura do pote de ouro, e daí só admirei.


Daniela Machado

quinta-feira, 4 de março de 2010

No Brasil

Homem desempregado
casado
três filhos.
Mão-de-obra abundante
aceita trabalhar
por vale-transporte
e ticket restaurante.

Daniela Machado

segunda-feira, 1 de março de 2010

Samba triste



Nunca escrever foi tão necessário, e tão difícil. Queria mesmo era conseguir compor um samba. Um samba triste, um samba de saudade, e como já dizia Baden Powell (que Deus o tenha):

“ Samba triste agente faz assim, eu aqui, você longe de mim, alguém se vai, saudade vem”.

E hoje acordei com o aperto de saudade, foi como se depois de toda a cerimônia, todas as lágrimas derramadas, o cortejo e o enterro, agora que a ficha começou a cair. E no momento em que a vida continua para todos nós, continua mais triste, faltando um pedaço. A música perdeu um grande instrumentista, a companheira um grande homem, filhos perderam um grande pai, os netos um avô alegre, risonho e bigodudo, e para o resto houve a perda de um grande amigo, um mestre do samba e da vida. Nosso querido Zazá partiu,"numa batucada de bamba", juntamente com outro sambista no Rio, o Walter Alfaiate, eles foram inclusive enterrados no mesmo horário, e aposto com quem quiser, que Deus não economizou no samba de recepção pros dois, lá em cima. Ajuda era que não faltava, lá devia estar o cartola, o Jamelão, o Baden Powell, e essa turma toda ... zazá deve estar se esbaldando!

O ruim da partida é pra gente que fica aqui, meio que abandonado, sem saber como vai ser de agora pra frente. Mas Zazá foi esperto, ele sabia que ninguém era eterno, e durante toda sua vida ele pregou, ensinou o que sabia de samba, de cadência. E agora os aprendizes estão aí, uma geração de sambistas talentosos, que aprenderam tradicionalmente na roda, na noite, sentado, olhando para as suas mãos firmes e precisas. Mãos estas que estavam geladas ontem, e ele estava sem bigode, mas usava a blusa predileta, e um broche de pandeiro. Coroas de flores do clube do choro, do samba da madrugada, de seus familiares, chegavam e perfumavam o ambiente. Homenagens de seus amigos músicos emocionavam a todos nós. Foi-se a despedida. Dedos trêmulos tocavam carinhoso no acordeon, violão e pandeiro. Lágrimas doces corriam dos olhos de todos, e na tristeza comungamos.

Hoje sinto-me privilegiada de ter tido a oportunidade de conhecer, conviver, aprender, e ser amiga dessa figura fantástica, que fez história, e deixou saudade.


Zazá hoje foi embora

Não há do que se lamentar

Ele teve que partir

Mas eu sei que aprendi

O que ele veio me ensinar


Hoje agora ele faz festa

E ensina quem já foi

Hoje o céu samba depressa

Com a chegada deles dois


Só não fica chateado

Pelo bigode cortado

Pois seu pandeiro

Aqui embaixo

Nunca será calado


Daniela Machado