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sexta-feira, 27 de abril de 2012

A lua de plutão

No chão, cinzas de uma quarta-feira sem cor.
Era pra ser só mais um dia qualquer, desses cobertos de ressaca de uma folia carnavalesca mal resolvida. O carnaval tinha acabado, e agora não havia mais como escapar dos regimes burocráticos que tradicionalmente a família mineira (chuta, chuta, chuta) impõe sem dó nem piedade.
Tinha passado quase toda festa encaixotando umas coisas e jogando outras fora.
Precisava consertar o chuveiro, que resolveu fantasiar de cachoeira, em plena terça-feira. Resolver a pintura, o caminhão, sabe-se lá o que mais.
Mas o mundo estava em standy by desde então. Só depois das 12, e olhe lá.
De tempos em tempos o vento soprava mais forte, e lá estava ela, carregando pra algum
lugar não se sabe onde, o gato, o cachorro, o papagaio. Isso tudo porque quando
ela nasceu passava bem distante uma lua em plutão, e por isso, a sina da mudança parecia
acompanhar-lhe todo o resto da vida.
Sina é sina.
Conseguia perceber na bagunça dos caixotes empilhados, alguma evolução. Olhou no espelho, e não era mais a mesma da última mudança, mas a dor nos olhos permanecia. Herança genética. Oscilava entre o medo e a coragem de fazer diferente. E a lua (lá em Plutão), não deixava
dúvidas. Deveria mesmo seguir, e mudar tudo de novo.